país terá segundo maior crescimento do PIB

país terá segundo maior crescimento do PIB

Pouco mais de um ano e meio após a posse de Javier Milei, a Argentina colhe resultados econômicos que estão sendo elogiados em todo o mundo.

Matthew Lynn, colunista do jornal britânico The Telegraph, publicou em julho um texto que mencionou o país governado pelo presidente libertário como um exemplo de racionalidade em um mundo de incerteza econômica.

“Quando o resto do mundo acordará para o milagre argentino?”, escreveu Lynn.

“Enquanto a França aboliu os feriados bancários para manter os mercados de títulos felizes, enquanto a chanceler [do Tesouro britânico] Rachel Reeves luta para preencher o mais recente ‘buraco negro’ nos livros contábeis do país, e enquanto até mesmo o mercado de títulos dos Estados Unidos se preocupa com a independência do Federal Reserve [Fed, o banco central americano], um país – e um muito improvável – está recebendo uma elevação na classificação”, afirmou o colunista, mencionando a recente elevação da nota da Argentina junto à agência de classificação de risco Moody’s.

Desde que chegou à Casa Rosada, no final de 2023, Milei promoveu a política do “déficit zero” cortando gastos – fechando ou fazendo fusão de departamentos, suspendendo obras públicas e cortando subsídios governamentais para serviços como luz, água e transporte público, entre outras medidas –, iniciou um processo de privatização de estatais, reduziu a burocracia e impostos e acabou com os controles cambiais.

Como consequência, dados coletados e divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec) têm comprovado o desempenho argentino elogiado por Lynn.

A inflação no país, que havia sido de 25,5% na variação mensal e 211,4% no acumulado em 12 meses em dezembro de 2023, quando Milei tomou posse, chegou em junho a 1,6% e 39,4% nos dois patamares, respectivamente.

No segundo semestre de 2024 (período com indicadores mais recentes), o Indec apontou que o percentual de domicílios abaixo da linha da pobreza nas áreas urbanas da Argentina chegou a 28,6%, uma queda de 13,9 pontos percentuais em relação aos seis primeiros meses do ano passado.

A respeito do crescimento econômico, após dois anos de recessão, a Argentina deve ter um incremento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,5% este ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). De acordo com o Indec, no primeiro trimestre, a economia argentina cresceu 5,8% na comparação com o mesmo período em 2024.

Em julho, o instituto divulgou que os salários de empregados formais cresceram 2,4% em maio, acima da inflação de 1,5% registrada no quinto mês do ano.

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Na apresentação do estudo Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês) no final de julho, em Washington, o FMI, que recentemente acertou o desembolso de mais US$ 2 bilhões à Argentina como parte do acordo com o fundo, destacou que o país deve ter o segundo maior crescimento do PIB entre as 25 maiores economias do mundo este ano, atrás apenas da Índia (6,4%).

O fundo divulgou projeções de crescimento dos países com os 20 maiores PIBs do planeta e de dez fora dessa faixa, como Nigéria, Cazaquistão e Paquistão.

A Argentina foi incluída no relatório e, segundo o FMI, terá este ano o 24º maior PIB do mundo – Suíça (21º), Taiwan (22º), Bélgica (23º) e Suécia (25º), que completarão o “top 25”, não foram analisados no WEO, mas, segundo outros estudos do fundo, terão crescimentos bem abaixo do argentino este ano.

“Nossas projeções de crescimento [da Argentina] para este ano, 2025, permanecem inalteradas em relação às projeções de abril, em 5,5%, e também inalteradas para o próximo ano, em 4,5%. A economia argentina está passando por uma forte recuperação. Este é certamente um desenvolvimento muito bem-vindo”, disse o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, segundo informações do jornal Clarín.

O patamar argentino no WEO é igual ao projetado para as Filipinas e é seguido mais de perto por Cazaquistão (5%), China, Indonésia (4,8%) e Malásia (4,5%). Segundo o FMI, o PIB brasileiro deve crescer 2,3% este ano.

“[O crescimento na Argentina] é impulsionado por melhorias na confiança, no crédito, nos salários reais, e tudo isso como resultado de um processo de desinflação muito forte, muito bem-sucedido até agora, com uma inflação esperada até o final deste ano em uma faixa de cerca de 18% a 23% ao ano”, afirmou Gourinchas.

Para pesquisador, fortalecer as reservas internacionais é o próximo desafio

Em entrevista à Gazeta do Povo, Allan Gallo, professor de ciências econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (MackLiber), afirmou que os dados econômicos da gestão Milei comprovam que “houve acertos importantes”.

“Na minha visão, o principal deles foi o compromisso com o ajuste fiscal. Milei enfrentou resistências duras, mas conseguiu reorganizar as contas públicas e sinalizar que o país não aceitaria mais conviver com déficits crônicos”, disse o analista.

“Essa virada fiscal devolveu um grau de previsibilidade para a economia argentina. Pela primeira vez em muitos anos, houve superávit, e isso criou uma base mínima para a retomada da confiança geral”, complementou Gallo, que ressaltou, porém, que ainda há pontos a serem resolvidos.

“O mercado de trabalho continua instável, a informalidade cresceu e a renda das famílias ainda está longe de se recuperar no mesmo ritmo da queda da inflação. Apesar dos avanços, o custo social segue alto e isso precisa ser enfrentado com mais política de inclusão produtiva e formalização”, afirmou o pesquisador.

Na opinião de Gallo, o próximo desafio mais urgente a ser encarado pela gestão Milei é fortalecer as reservas internacionais, já que a economia argentina ainda está vulnerável a choques externos e precisa se proteger melhor.

“O plano de trazer para a formalidade os ‘dólares debaixo do colchão’, esse dinheiro guardado fora do sistema bancário, pode ser uma saída interessante, mas só vai funcionar se houver um ambiente de confiança institucional. Sem isso, ninguém vai querer abrir mão da segurança do dinheiro guardado em casa”, disse o analista.

A respeito da afinidade de Milei com a gestão Donald Trump, Gallo disse que “isso pode gerar alguma vantagem diplomática que, por exemplo, o Brasil não tem agora”, facilitando conversas e destravando investimentos – mas, sozinha, essa relação não será suficiente para a Argentina.

“Novamente, o que realmente atrai capital estrangeiro é a estabilidade de regras, a previsibilidade e a confiança. Relação pessoal entre presidentes ajuda, mas não substitui fundamentos econômicos”, finalizou.



Fonte ==> Gazeta do Povo

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