Os chineses chegam ao Brasil com biotecnologia para a soja – 24/07/2025 – Vaivém

Os chineses chegam ao Brasil com biotecnologia para a soja - 24/07/2025 - Vaivém

Não é apenas a compra da soja que traz a China para o Brasil, mas também todo o processo de produção da oleaginosa. A China, que já tem grandes empresas participando na importação da soja brasileira, agora chega para fornecer tecnologias focadas na produção dentro da porteira, principalmente nos setores de desenvolvimento de produtos, transgenia e biotecnologia.

Os chineses sabem que vêm para competir com grandes empresas já estabelecidas e detentoras de grande parcela do mercado brasileiro, mas, como diz Weicai Yang, do Yazhouwan National Laboratory, a competição é saudável e sempre dá novas opções a um mercado para que não fique dependente de tecnologias de apenas um outro país.

Yang pertence a um grupo de pesquisadores de um laboratório que o governo chinês montou na ilha de Hainan para pesquisas sobre culturas da soja, milho e algodão. Nessa ilha voltada para a ciência, pesquisadores desenvolvem variedades de plantas com especificações de óleo de soja e de proteína exigidas pelo mercado chinês.

Além do desenvolvimento da soja internamente, os cientistas chineses buscam variedades adaptadas aos países vizinhos da China, à área tropical, à África e à América Central.

O governo chinês transformou a ilha de Hainan em uma zona franca, livre de vistos e com incentivos para facilitar a entrada de estrangeiros e de cientistas.

A demanda chinesa por soja aumenta ano a ano, e está em 120 milhões de toneladas. Atualmente, o país asiático produz 20 milhões de toneladas, e a meta é elevar em 15% esse volume até 2030.

Na avaliação de Yang, a seleção genômica ampla, transgenia e mais recentemente a edição gênica já estão sendo ferramentas importantes para o setor. Para doenças, a transgenia vai continuar sendo relevante, segundo ele.

Além desse centro de pesquisa montado pelo governo, e cujos cientistas não deixam de olhar para o Brasil, as empresas privadas chinesas também buscam o mercado brasileiro. Mesmo encontrando gigantes multinacionais já estabelecidas por aqui, prometem abocanhar boa parte do mercado nacional no fornecimento de novas tecnologias para a soja nos próximos anos.

É o caso da jovem DBN. Com apenas 4 anos no Brasil, ela se programa para ocupar 30% do mercado brasileiro nos próximos dez anos na área de biotecnologia, segundo Suping Geng, responsável pela operação da empresa na América do Sul.

O Brasil é o principal produtor mundial de soja, e a China, a principal importadora. Na avaliação dos chineses, por que não participar mais do mercado brasileiro com tecnologias, deixando de pagar royalties para outras empresas e obtendo uma soja com custos menores? Afinal, o Brasil tem a soja, e a China, o mercado.

A DBN quer participar mais do mercado brasileiro porque, segundo Geng, os produtos deles para resistência a insetos e tolerância a herbicidas são competitivos. Além disso, a soja brasileira tem custos menores do que em outras regiões produtivas

A empresa, que promete avançar no mercado nos próximos anos, fará esse crescimento com parcerias. Algumas já em curso, como a com a argentina GDM, e outras ainda em negociações.

Há uma nova geração de plantas tolerantes a herbicidas vindo pela frente. Com relação às proteínas de plantas resistentes a insetos, eles estão trabalhando ao ponto de mudar algumas proteínas e usar modelagem com inteligência artificial.

A empresa trabalha também com toda uma modelagem para resistência a fungos, como a ferrugem asiática da soja, e desenvolve uma linha de resistência a insetos, entre eles, o percevejo e até o bicudo em algodão.

Além do Brasil, o executivo da empresa diz que a DBN quer uma participação na América do Sul, e, para isso, pretende construir um laboratório de pesquisa e desenvolvimento em território brasileiro.

A China já tem outras empresas atuando no Brasil, como a LongPing, uma das maiores sementeiras do país asiático. Ela desenvolve variedades que estão sendo testadas e adaptadas para as condições brasileiras.

A China avança na biotecnologia e traz mudanças ao próprio mercado interno. Antes proibido, o plantio de transgênicos vem sendo liberado em algumas regiões, mas ele só pode ser feito com sementes desenvolvidas por empresas chinesas.

O Brasil precisa ficar atento a essas inovações que estão sendo desenvolvidas na China e nos Estados Unidos, segundo Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja. Esses países já estão desenvolvendo variedades com maior teor ácido oleico. Esse óleo emite 70% menos óxido nitroso que o da soja normal. O óxido nitroso é 300 vezes mais poluente que o CO2 em termos de gás e efeito estufa.

Ele se assemelha a um óleo de oliva, mas este último tem características organolépticas que a soja não tem, além de sabor e cheiro. O Brasil está perdendo essa corrida, afirma o chefe-geral da Embrapa.

Com relação à expansão da produção de soja pela China em outros países, Yang não descarta a produção nos países da África. Embora o continente possa vir a ser um grande fornecedor da oleaginosa para os chineses, essa é uma meta para o futuro, afirma o pesquisador. Algumas empresas de menor porte, no entanto, já operam no continente.

O objetivo agora, segundo Yang, é mexer com a proteína, com a qualidade do óleo e com essas questões de modulação para o plantio nos países próximos ao território chinês.

Um dos sinais do interesse dos chineses na soja brasileira é que, pela primeira vez, eles participaram de um congresso de soja da Embrapa, evento que é realizado de três em três anos. Vieram três comitivas da China, com pesquisadores e empresários ligados ao setor. O congresso foi realizado de segunda-feira (21) a quinta-feira (24), em Campinas (SP).

O jornalista viajou a convite da Embrapa.



Fonte ==> Folha SP

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