O lado (talvez) positivo das mudanças cerebrais na menopausa – 11/04/2025 – Pintando um Clima

O lado (talvez) positivo das mudanças cerebrais na menopausa - 11/04/2025 - Pintando um Clima

Dia desses, li o comentário de uma leitora num artigo que escrevi sobre as mudanças no cérebro na menopausa.

Ela contava que, no seu caso, o maior impacto foi mesmo na memória. E perguntava: voltará a ser o que era?

Amiga… também venho me questionando se vai ser assim forevis. Cada vez que esqueço de novo o celular em casa;

ou paro com alguma coisa na mão e não lembro — não, não tenho ideia do que tava fazendo;

ou tenho dificuldades de encontrar as palavras [inclusive pra este texto], as chaves, o fio da meada.

Os apagões mais frequentes começaram no fim dos anos 30, persistem aos 47 e não parecem dar mostras de querer ir embora. No meu caso, além do mais, não tenho acesso ao graal da reposição hormonal pra dar uma ajudinha, embora, sim, note que outros recursos como exercício, meditação e paciência ajudem, e muito.

Entre amigas climatéricas, escuto dúvidas parecidas num uníssono crescente: tô ficando louca? tô exagerando? é inevitável? Será que é pra sempre?

A resposta curta a gente já imagina: como muitas outras cousas e não-cousas en la vida, não é que a gente vá recuperar o vigor, corpinho e cerebrozinho de 25 algum dia.

Mas a resposta longa, embora ainda não exista assim de papel passado no cartório das antologias científicas, parece sugerir uma direção mais interessante — e, quem sabe, também positiva.

MUDANÇAS DO CÉREBRO NA MENOPAUSA

A essa altura, graças a luminares e ativistas-da-menopa como a neurocientista Lisa Mosconi, autora do indispensável O Cérebro e a Menopausa (Harper Collins, 2024), já se começa a aceitar que a menopausa é um fenômeno muito mais complexo do que uma transição da vida reprodutiva para a não-reprodutiva, e implica em uma revolução geral — inclusive neurológica.

Mosconi liderou a maior investigação feita até hoje sobre as mudanças do cérebro durante a menopausa. O estudo, publicado em 2021, identificou alterações claríssimas na atividade cerebral e na maneira como as diferentes partes do cérebro se conectam ao longo desse período.

É sabido que “a habilidade das mulheres de aprender e lembrar material verbal declina durante a menopausa”, afirma Pauline Maki, diretora do programa de pesquisa sobre saúde mental da mulher da Universidade de Illinois, Chicago.

Ainda assim, nota, essas mulheres tipicamente performam melhor do que homens em testes cognitivos, o que no mínimo indica que ainda há muitas perspectivas a reformular, entender e aprofundar diante deste vasto-vago conceito de Declínio Cognitivo Da Mulher na Menopausa.

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MENOPAUSA: UMA SEGUNDA ADOLESCÊNCIA

“Eu gosto de dizer que a menopausa é um projeto de renovação do cérebro”, diz Mosconi. “O cérebro tem todas essas conexões neuronais que se ligam aos ovários, mas, com a menopausa, muitas delas não são mais necessárias e podem ser descartadas. E isso leva a alterações cerebrais que também podem se manifestar como vulnerabilidades – para algumas mulheres, também vemos os primeiros sinais de alerta para a doença de Alzheimer nesse momento”.

“Mas é importante que o cérebro seja capaz de se reconectar para que a mulher possa seguir para a fase seguinte de sua vida – que, embora não seja reprodutiva, pode ser igualmente produtiva”.

Pronto, aí está o lance interessante: o cérebro é sábio e plástico, minha gente. A menopausa, nesse sentido, pode ser entendida como uma segunda adolescência — em ambos os períodos críticos de nossas vidas como mulheres, corpo e cérebro sofrem mudanças profundas para adaptar-se aos novos tempos.

Na menopa, como na adolescência, ocorre um fenômeno conhecido como “poda neuronal” (neuronal pruning), isto é, eliminação de neurônios e sinapses que já não servem mais, com subsequente redecoração da casa para otimizar funções. Homens também passam pelo mesmo, mas com a gente a poda é mais bombástica. 🙂

Aliás, o dinamismo cerebral está presente também ao longo de toda a nossa vida fértil: em cada ciclo menstrual, em sincronia com a dinâmica hormonal, é possível observar mudanças na morfologia e arquitetura funcional do cérebro da mulher.

No caso da poda neuronal, o que pode soar como uma perda na real é um processo fantástico de upcycling natural, já que o que se perde em profusão se busca ganhar neurologicamente em funcionalidade e performance. Pensa na poda de uma plantinha pra que cresça bunita, forte e com frutos: é nóis na menopa!!! Eu juro!! Eu quero crer!!

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Evidentemente, não somos ratas isoladas em condições controladas de laboratório; vivemos mergulhadas em circunstâncias complexas, em que sintomas atribuíveis à menopausa são possivelmente multifatoriais e influenciam uns aos outros.

Em outras palavras: no caso da memória, por exemplo, outros fatores podem interferir. No climatério, alguns estudos preliminares sugerem que não é só a queda hormonal estrogênica a culpada, mas, talvez, colateralmente, outros sintomas como fogachos ou suores noturnos.

Ao impedir a gente de dormir bem, a memória e o aprendizado se veem afetados. Bingo.

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A boa notícia, segundo Mosconi, é que a famigerada névoa mental da perimenopausa tende a se dissipar cerca de dois anos depois da menopausa.

Além disso, a amígdala, “centro da nossa regulação emocional”, tende a ficar mais calminha depois da menopa, o que nos leva, segundo Mosconi, a ser menos reativas diante de situações negativas, ter mais estabilidade emocional e, no geral, sentir-nos mais tranquilas e felizes. Por fim, segundo ela, também se ativam dinâmicas cerebrais que favorecem o surgimento da empatia.

“Em média, mulheres na pós-menopausa são mais felizes”, afirma. “O cérebro na menopausa passa por um inferno, mas tende a ressurgir mais sábio, forte e satisfeito”. Tomara. Tamo aqui torcendo e fazendo sudoku.

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Fonte ==> Folha SP

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