Naves minúsculas podem viajar até buracos negros no futuro

Naves minúsculas podem viajar até buracos negros no futuro

Pequenas espaçonaves tão leves quanto um clipe de papel podem, um dia, viajar até um buraco negro próximo. Publicada nesta quinta-feira (7) na revista iScience, essa proposta ousada prevê o uso de veículos movidos a laser para explorar um dos ambientes mais extremos do cosmos e testar os limites da teoria da relatividade geral de Albert Einstein.

Embora a ideia pareça saída de um livro de ficção científica, o cosmólogo Cosimo Bambi, da Universidade Fudan, na China, garante que ela é baseada em física real. Em um comunicado, ele lembra que, no passado, muitos achavam impossível detectar ondas gravitacionais ou obter imagens de buracos negros – feitos que hoje já são realidade. “Não temos a tecnologia agora. Mas, em 20 ou 30 anos, talvez tenhamos”, acredita o cientista.

Imagine espaçonaves de propulsão a laser tão leves quanto um clipe de papel sendo lançadas até um buraco negro próximo para investigar esses mistoriosos titãs cósmicos. Crédito: Optimarc – Shutterstock

Em resumo:

  • Estudo propõe lançar uma espaçonave minúscula, movida por laser, rumo a um buraco negro;
  • O objetivo seria testar previsões da teoria da relatividade de Albert Einstein;
  • Sondas leves seriam aceleradas da Terra a um terço da velocidade da luz;
  • O experimento poderia confirmar a existência do chamado horizonte de eventos;
  • Viabilidade do projeto depende de avanços tecnológicos e da confirmação de um buraco negro a poucos anos-luz de distância.
Primeira imagem capturada de um buraco negro revelou o M87*, que fica no centro da galáxia M87. O registro foi feito em 2019 pela rede de radiotelescópios EHT. Crédito: EHT Collaboration

Sondas minúsculas chegariam a buraco negro em até 75 anos

O plano envolve o lançamento de “nanonaves”, minúsculas sondas de poucos gramas, equipadas com sensores e uma vela de luz. A propulsão viria de lasers extremamente potentes instalados na Terra, capazes de acelerar as naves a quase um terço da velocidade da luz. Assim, seria possível alcançar um buraco negro a 20 ou 25 anos-luz em cerca de 60 a 75 anos.

Os dados coletados pelas sondas levariam outras duas décadas para chegar, totalizando quase um século de missão. Ainda assim, o projeto abriria caminho para investigar se buracos negros realmente possuem um horizonte de eventos – o limite invisível que nada consegue ultrapassar, nem a luz. Essa fronteira é prevista pela relatividade, mas nunca foi confirmada diretamente.

Na missão, uma sonda registraria a queda de outra em direção ao buraco negro. Segundo descrito no artigo, se houver horizonte de eventos, o sinal da nave em queda enfraquecerá e desaparecerá gradualmente, como Einstein previu. Mas, se o objeto for algo diferente, como a chamada “bola de pelo” (um conceito teórico sem horizonte), o desaparecimento poderá ser abrupto, revelando uma nova física.

Concepção artística de um buraco negro. No centro da imagem, o horizonte de eventos, a partir do qual nem mesmo a luz é capaz de escapar da enorme gravidade. Créditos: Goddard Space Flight Center da NASA / Jeremy Schnittman

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O que é necessário para o projeto se tornar realidade

Segundo Bambi, para que a missão se torne realidade, dois avanços são essenciais: localizar um buraco negro suficientemente próximo e criar sistemas de propulsão a laser, além de naves miniaturizadas capazes de suportar a viagem. Atualmente, o buraco negro mais perto conhecido, Gaia BH1, está a 1.500 anos-luz – de acordo com o novo estudo, no entanto, modelos indicam que pode haver um ainda não detectado a 20 ou 25 anos-luz.

Hoje, o custo para construir o conjunto de lasers seria de US$1,1 trilhão, valor inalcançável para orçamentos científicos. Mas Bambi estima que,  em poucas décadas, o preço pode cair para cerca de um bilhão de euros, comparável a missões espaciais de grande porte. 

Poranto, se de fato houver um buraco negro próximo e a tecnologia necessária, será apenas questão de tempo para enviarmos “naves-clipes” até ele.




Fonte ==> Semanário SC

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