Nagasaki faz homenagem às vítimas

Nagasaki faz homenagem às vítimas

No dia 9 de agosto de 1945, às 11h02, Nagasaki, no Japão, foi atingida por uma bomba atômica lançada pelos EUA, causando a morte de cerca de 74 mil pessoas. Esse ataque ocorreu apenas três dias depois da bomba lançada sobre Hiroshima, que fez 140 mil vítimas fatais.

Neste sábado, moradores e visitantes da cidade relembram o triste episódio, que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial, respeitando um minuto de silêncio exatamente no horário em que a bomba explodiu.

Nuvens de cogumelo formadas pelas bombas atômicas lançadas pelos EUA sobre Hiroshima (esquerda) e Nagasaki (direita) em agosto de 1945. Créditos: George R. Caron/Carlos Levy – Creative Commons

Durante a solenidade, o campanário da igreja de Nagasaki, que havia sido destruído pelo ataque, tocou pela primeira vez desde aquele dia. Esse sino, restaurado recentemente, simboliza a memória e a esperança de paz para o município.

O prefeito Shiro Suzuki fez um discurso emocionado. “Oitenta anos se passaram, e quem poderia imaginar que o mundo chegaria a esse ponto? Precisamos parar todos os conflitos armados imediatamente”, disse o governante, alertando para o aumento das tensões e divisões no mundo, dizendo que o risco de uma guerra nuclear ainda é real.

Mais de 100 países estiveram presentes

Segundo a agência de notícias Associated Press, a cerimônia contou com representantes de mais de 100 países, incluindo a Rússia, que não participava desde a invasão da Ucrânia em 2022. Israel também marcou presença, após ter sido excluído no ano passado devido a protestos relacionados a conflitos no Oriente Médio.

Embora a explosão da bomba pareça distante no tempo, a tragédia é uma lembrança viva para quem viveu aquele momento. Atsuko Higuchi, uma moradora de 50 anos, disse que é importante manter a recordação desses fatos para que a história não se repita.

A Catedral da Imaculada Conceição de Urakami, um prédio de tijolos vermelhos reconstruído em 1959 no local, é outro símbolo dessa memória. Ela fica no alto de uma colina e foi destruída pela explosão, que aconteceu a poucos metros dali. Dois sinos da igreja, um deles restaurado pelos EUA, estão lado a lado e foram tocados para marcar a data.

Catedral da Imaculada Conceição de Urakami, um dos símbolos de Nagasaki reformados depois da destruição causada pela bomba atômica. Crédito: Hayakato – Shutterstock

Sobreviventes da bomba atômica pedem o fim das armas nucleares

Sobreviventes do ataque e seus apoiadores seguem defendendo o fim das armas nucleares. Eles buscam transmitir essa mensagem às novas gerações, reforçando que o ocorrido não pertence apenas ao passado – serve como um alerta para o futuro.

“Eu desejo duas coisas: que as armas nucleares sejam eliminadas e que a guerra seja proibida. Quero um mundo onde todos possam viver em paz, sem medo”, disse Fumi Takeshita, uma sobrevivente de 83 anos, que regularmente visita escolas para contar sua história e ensinar sobre os perigos das armas nucleares.

Durante uma dessas visitas, ela pediu aos alunos: “Quando crescerem, lembrem-se do que aprenderam e pensem no que podem fazer para evitar a guerra.” Para a senhora, essa conexão com os jovens é essencial para manter viva a memória e o compromisso com a paz.

Teruko Yokoyama, outra sobrevivente de 83 anos, também está preocupada com o futuro. Com o passar dos anos, muitos sobreviventes têm falecido, e ela quer registrar suas histórias antes que desapareçam. Atualmente, há cerca de 99 mil sobreviventes, com idade média acima de 86 anos.

Para preservar essas memórias, uma organização em Nagasaki está digitalizando e compartilhando os relatos dessas pessoas em plataformas como o YouTube, uma iniciativa que conta com a ajuda de jovens que querem manter a história viva.

“Existem pessoas mais novas que estão começando a agir, e isso nos dá esperança”, disse Yokoyama. A cidade também organizou um “fórum da paz”, onde mais de 300 jovens ouviram relatos de sobreviventes. Seiichiro Mise, de 90 anos, entregou sementes de “flores da paz” para que essas mensagens floresçam nas novas gerações.

Apesar desse esforço, há preocupação entre os sobreviventes sobre a crescente ameaça nuclear no mundo. Eles criticam governos que continuam apoiando armas atômicas para garantir a segurança, mesmo com os riscos que isso traz.

Japão não assinou Tratado de Proibição de Armas Nucleares

O Japão, que sofreu com as bombas em Hiroshima e Nagasaki, não assinou o Tratado de Proibição de Armas Nucleares. O governo argumenta que depende da proteção nuclear dos EUA, hoje seu aliado, para manter a segurança nacional.

No discurso em Nagasaki, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba reafirmou o compromisso do país com um mundo sem armas nucleares. Ele prometeu incentivar o diálogo entre nações com armas nucleares e as que não têm, especialmente na próxima conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, marcada para 2026 em Nova York.

António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), também destacou a importância do desarmamento. Em mensagem lida na cerimônia, ele pediu que os países deixem de falar e passem a agir para reduzir as armas nucleares, ressaltando o papel do Tratado de Não Proliferação.

Todos os países foram convidados para a cerimônia, mas a China avisou que não participaria, sem explicar o motivo. No ano passado, a ausência do embaixador dos EUA e de outros representantes ocidentais causou polêmica, após Nagasaki não convidar autoridades de Israel.

A cada ano, a cidade renova sua lembrança do passado, lançando também um alerta para o futuro. O desafio é manter viva a memória e trabalhar para que tragédias como essa nunca mais aconteçam, especialmente num mundo onde a ameaça nuclear ainda existe.






Fonte ==> Olhar Digital

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