A morte do senador Miguel Uribe, de 39 anos, nesta segunda-feira (11), dois meses após ele ter sido alvo de um atentado a tiros em Bogotá, revive uma triste tradição da Colômbia: a violência política.
Uribe, que era pré-candidato do partido conservador Centro Democrático para a eleição presidencial de 2026, já tinha na sua família um histórico de violência.
Sua mãe, a advogada e jornalista Diana Turbay, foi sequestrada pelo Cartel de Medellín, de Pablo Escobar, em 1990 e no ano seguinte foi morta durante uma tentativa fracassada de resgate, realizada pela polícia sem autorização da família.
O jovem político conservador é o oitavo candidato à presidência assassinado na história da Colômbia. Os dois primeiros casos foram o do general Rafael Uribe Uribe, em 1914, e de Jorge Eliécer Gaitán, em 1948 – esta morte deflagrou um período de instabilidade na Colômbia chamado de La Violencia, que deu origem ao conflito no qual surgiram as guerrilhas que assombram o país até hoje.
No que diz respeito a candidatos à presidência, o período mais letal foi entre 1987 e 1990, período em que Escobar mandava na Colômbia e quando foram mortos Jaime Pardo Leal, Luis Carlos Galán, Bernardo Jaramillo e Carlos Pizarro.
Antes de Uribe, o caso mais recente havia sido o do conservador Álvaro Gómez, morto em 1995. O crime foi reivindicado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2020, mas a família de Gómez sustenta que a motivação teriam sido denúncias que a vítima vinha fazendo sobre suposto financiamento do narcotráfico ao então presidente Ernesto Samper Pizano (1994–1998).
A violência política colombiana, entretanto, continua e vai além dos ataques que visam candidatos à presidência: um estudo realizado por especialistas de universidades dos Estados Unidos, da Colômbia e do Canadá contabilizou que quase 2 mil políticos foram assassinados no país entre 1983 e 2023.
Em maio, uma das autoras do estudo, Ana Arjona, pesquisadora do Departamento de Ciência Política da Universidade do Noroeste do Illinois (EUA), afirmou em entrevista ao site da instituição que esses assassinatos políticos reduziram o comparecimento de eleitores nas áreas afetadas durante quatro ciclos eleitorais.
“Acho que não falamos o suficiente sobre como isso [violência contra candidatos] não é apenas obviamente errado e inaceitável, mas também como pode minar a democracia. Se os assassinatos estão colocando essas comunidades na Colômbia em uma trajetória diferente em termos de participação política, deveríamos estar fazendo algo para recuperar a confiança na democracia”, afirmou.
“Também acho que há uma banalização da violência na maneira como partidos políticos, noticiários e programas de opinião falam sobre ela, o que também pode aumentar a tolerância à violência”, alertou Arjona.
No final de junho, poucas semanas após o atentado, o advogado de Uribe, Víctor Mosquera, apresentou uma denúncia contra o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, perante a Comissão de Acusação da Câmara dos Deputados, alegando que o mandatário esquerdista proferiu “discursos de ódio” contra o senador.
“Não estou relacionando isso diretamente com o atentado que ele sofreu, mas sim com ele [Petro] ter gerado um ambiente que pode ter levado a esse atentado”, alegou Mosquera.
Fonte ==> Gazeta do Povo