Ae-sun é uma garota rebelde, teimosa, grita com o mar e sonha ser poeta, apesar da pobreza da família. Gwan-sik é o oposto: tímido, mal fala, mas devota toda sua adoração à garota por quem é apaixonado desde criança.
IU e Park Bo-gum, duas das maiores celebridades da Coreia do Sul, dão vida ao casal protagonista de “Se a Vida te Der Tangerinas”, k-drama que estreia nesta sexta (7). Ela tem carreira consolidada como cantora de k-pop e repetiu o sucesso na atuação, indo parar em Cannes com “Broker”, de Koreeda. Ele é o galã das séries coreanas, elogiado pela versatilidade de papéis, e também canta.
A série da Netflix marca o retorno dos dois ao mundo dos k-dramas, após hiato de cinco anos. IU, nome artístico de Lee Ji-eun, afirma que o roteiro a cativou e a fez aceitar o projeto. “Sempre fui grande fã do roteirista Lim Sang-choon, então quando me ofereceram participar do projeto, mesmo antes de ler qualquer coisa, fiquei muito animada”, diz a atriz, em entrevista à Folha. “Assim que terminei de ler o roteiro, não podia esperar mais para começar as filmagens.”
Bo-gum, que prestou o serviço militar obrigatório e atuou em filmes no período, diz que também era fã de longa data do roteirista. “Fiquei extremamente grato por ter recebido a oportunidade e por poder trabalhar ao lado de alguém como a IU.”
Quando foi anunciado que os dois atuariam juntos num k-drama, e ainda mais como casal, fãs dessas produções ficaram em polvorosa —é como se fosse um “encontro dos titãs”. Na verdade, um reencontro, pois a dupla atuou brevemente num comercial de 2011.
IU acredita que a reunião foi o destino. “O fato de termos nos conhecido na adolescência e finalmente termos trabalhado juntos nos nossos 30 faz parecer que o que está destinado a acontecer, acontecerá”, diz. “Sempre que nos encontrávamos, dizíamos que adoraríamos trabalhar juntos se surgisse um projeto. Fiquei muito feliz que isso se concretizou.”
A dupla celebra a parceria e a proximidade nas gravações. “Trabalhar com o Bo-gum foi muito mais agradável do que eu poderia imaginar, me sentia confortável com ele. Se tivermos outra chance de trabalhar juntos, eu toparia sem hesitar”, diz IU. “Idem”, completa Bo-gum. “Você não conhece facilmente um amigo da mesma idade, e isso foi muito importante para mim. Me ajudou a entrar no papel vendo ela atuar.”
Eles, porém, não são os únicos a interpretar Ae-sun e Gwan-sik. Isso porque o drama os acompanha ao longo de 65 anos, até os tempos atuais. Também aclamados, os atores Moon So-ri e Park Hae-joon fazem as versões mais velhas do casal.
É So-ri quem dá início à série. Já com 70 anos, pinta numa folha o mar, e então o espectador é levado às ondas de Jeju, em 1960. A ilha no extremo sul da Coreia, eleita patrimônio mundial natural da Unesco, funciona como um personagem à parte.
O diretor Kim Won-suk explica o contexto: na década de 1950, muitos se mudaram para a ilha fugindo da Guerra da Coreia. Assim o fez a mãe de Ae-sun na trama, uma mulher de pavio curto, com três filhos de casamentos diferentes.
Jeju, além de ser destino de férias, é conhecida por ser lar das haenyeo, mergulhadoras mulheres que usam só o ar dos pulmões. Arriscado, foi o trabalho que restou à mãe da protagonista. “É melhor você nascer vaca do que haenyeo”, dizia à filha. A expectativa de vida naquela época era de 52 anos, e Gwang-rye chegou apenas aos 29. Os mergulhos e o cigarro lhe causaram doenças respiratórias.
Ae-sun odeia o mar que levou a mãe. Essa ligação com a ilha é importante para justificar o desejo de fuga dela, explica Won-suk em coletiva. Órfã, a garota de dez anos abandona os estudos para carregar a responsabilidade de sustentar os irmãos mais novos.
“Ela pode não ter muita coisa, mas tem um coração enorme e é uma garota cheia de sonhos. Não há razão para sentir pena dela”, diz IU sobre sua personagem. “Diria que somos muito parecidas. Tirando o fato que Ae-sun chora muito, ela e eu compartilhamos muitas semelhanças.”
A jovem encontra terra firme em Gwan-sik, filho de pescadores, que tem um coração de aço. “Também acho que compartilho semelhanças com o Gwan-sik”, diz Bo-gum. “Como quando você se apaixona por alguém, você quer dar tudo de si e torce por essa pessoa, não importa o que aconteça. Acho que sou assim na vida real. E gosto de pensar que também tenho essa natureza determinada e diligente de Gwan-sik.”
A família do casal é contra e dificulta a união. Mas a história logo mostra que eles ficam juntos, casados quando mais velhos. E com uma filha, interpretada pela própria IU.
Essa é a primeira vez que a atriz faz um papel duplo, missão desafiadora, ela conta. “As duas personagens são diferentes porque são mãe e filha, mas não são tão diferentes assim. O diretor me deu um feedback dizendo que ele não queria que eu retratasse as duas de uma forma que parecesse quase forçada ou na qual eu tentasse torná-las diferentes.”
Uma das técnicas para diferenciá-las foi mudar seu tom de voz. “Ae-sun tem um tom de voz mais agudo do que a minha voz real, e com Koon Myung eu usei meu tom de voz mais grave. A parte difícil foi manter esse equilíbrio muito delicado entre as duas”, explica.
Todas as gerações de mulheres enfrentam o machismo da sociedade na trama. Ele é visto em momentos como Ae-sun perder o cargo de presidente de turma para um garoto, leis que definiam o tamanho das saias ou a pressão de casar e abandonar a carreira profissional.
“Se a Vida te Der Tangerinas” acompanha a passagem do tempo e as transformações na vida do casal, capturadas como se fossem as quatro estações do ano. Por isso, os 16 episódios de cerca de uma hora serão disponibilizados em quatro partes, até o fim de março. “As pessoas amam maratonar séries hoje em dia, mas 16 episódios é muita coisa para ver de uma vez. E tendem a assistir numa velocidade rápida. Com esse método, o público vai saborear devagar”, afirma o diretor.
O título é um twist e troca os limões do ditado popular pela fruta que é símbolo de Jeju. “Troca o amargor e torna em algo doce”, define IU.
Fonte ==> Folha SP