The New York Times
Se você estava passeando pelo Upper West Side na sexta-feira passada (1) —como eu estava com meu cachorro— você conseguiu entrar direto no set de “O Diabo Veste Prada 2”, do lado de fora do Museu Americano de História Natural.
Pendurados na fachada Beaux-Arts, havia dois banners com o título Runway, a revista fictícia comandada pela temível Miranda Priestly (Meryl Streep), e as palavras “Florais da Primavera”, evidentemente o tema da cena de gala que estava prestes a ser encenada. (Os fãs de verdade sabem que há uma ironia nisso: no original de 2006, Miranda murmurou friamente: “Florais? Para a primavera! Inovador”)
Mas deparar-se com a produção de “O Diabo Veste Prada 2” não tem sido uma experiência incomum neste verão em Nova York. Streep e sua colega de elenco, Anne Hathaway, parecem estar por toda parte, parando os funcionários de escritórios de Midtown e saltando da calçada com cara de ocupados. Suas imagens também inundaram o TikTok e o Instagram, transformando o filme em um fenômeno nas redes sociais meses antes de estrear nos cinemas.
Ainda não sabemos muito sobre a sequência, que supostamente verá nossos personagens favoritos lutando contra um cenário de mídia instável e familiar. Sabemos que a ex-assistente de Miranda e nossa heroína, Andy Sachs (Hathaway), usa um vestido Gabriela Hearst com estampas coloridas e um chapéu de balde perto de um ônibus Hampton Jitney.
A imperiosa Emily, outra ex-assistente de Miranda (interpretada por Emily Blunt), também está de volta, vestindo uma camisa Dior com espartilho e calças da Gaultier. A Vogue dedicou um artigo ao tom específico de seu cabelo ruivo. O charmoso Nigel (Stanley Tucci) aparentemente ainda está em contato com Miranda, apesar de sua traição —ou, pelo menos, Tucci e Streep foram vistos juntos.
Quase um ano antes de seu lançamento, em maio de 2026, “O Diabo Veste Prada 2” parece onipresente de uma forma que é ao mesmo tempo tentadora e, para alguns, irritante. Uma manchete da Vogue bradou: “Sem querer ser dramática, mas os paparazzi estão arruinando os filmes para todos nós”. A revista Marie Claire declarou: “Não quero ver mais figurinos de ‘O Diabo Veste Prada 2’ até estar no cinema”.
O fluxo de fotos do set —algumas de paparazzi e outras de espectadores comuns— coloca o filme na mira de duas ideias conflitantes sobre o consumo de longas. Por um lado, as imagens alimentam o moinho das mídias sociais, fornecendo material infinito para nossos feeds. Ao mesmo tempo, muitos fãs afirmam ter intensa fobia de spoilers, e o medo não se estende apenas aos principais pontos da trama.
Em Marie Claire, a escritora Meguire Hennes argumentou que, para um projeto tão dependente da moda como “O Diabo Veste Prada”, ver muitas roupas pode ser um spoiler. Quando o filme chegar aos cinemas, “talvez eu esteja decepcionada —porque sei que está chegando”, escreveu ela.
Eu realmente não acredito nesse argumento. É claro que várias roupas e locais permitem palpites: há algum tipo de Met Gala falso! Andy vai (ou pelo menos tenta ir) aos Hamptons! Mas descobri que nada pode superar a experiência de assistir a um filme de verdade. O sucesso de “O Diabo Veste Prada 2” será determinado pela sua capacidade de igualar os diálogos inteligentes e cativantes e a profundidade emocional de seu antecessor —não pelo fato de a bolsa Coach de Andy ser excessivamente familiar.
Ao mesmo tempo, muita exposição pode ser perigosa —não para o fã, mas para um filme ou programa de TV que ainda está em processo de produção. A moda exibida em “O Diabo Veste Prada 2” já recebeu algumas críticas da galeria de amendoim online. Isso ainda não é nada comparado à indignação daqueles que viram as primeiras fotos de “American Love Story”, de Ryan Murphy, sobre o romance entre John F. Kennedy Jr. e Carolyn Bessette-Kennedy. O próprio Murphy divulgou fotos de um teste de tela, mas para piorar a situação, havia uma imagem no set da atriz Sarah Pidgeon, interpretando Bessette-Kennedy, com uma saia brilhante e Chuck Taylors.
O consenso era que a série havia se enganado completamente sobre o estilo icônico e elevado de Bessette-Kennedy. Suas roupas pareciam fast fashion em vez das marcas simples, porém elegantes, pelas quais era conhecida. Seus cabelos loiros não tinham os característicos “blocos amanteigados” de Bessette-Kennedy. Embora a InStyle tenha notado que Bessette-Kennedy tinha uma queda por Chucks, segundo sua biógrafa, e fotos posteriores do set de filmagem mostrassem o cabelo de Pidgeon com definição mais precisa, o estrago já estava feito.
Dar uma espiada no funcionamento interno dos sets de filmagem pode ser emocionante —como as filmagens do que parecem ser os efeitos práticos usados para balançar teias em “Homem-Aranha: Um Novo Dia”, que está sendo filmado atualmente. Mas as fotos de paparazzi podem, às vezes, parecer invasivas, como quando espiões usaram subterfúgios para dar uma olhada em Oz em “Wicked”.
Ariana Grande se lembra de ter notado que “de repente, estávamos lá fora, e o Daily Mail estava voando de asa-delta sobre o nosso set”. Mas há algo diferente, e mais emocionante, na maneira como “O Diabo Veste Prada 2” fez de Nova York seu lar, convidando não apenas os paparazzi, mas também o público para a diversão.
Afinal, não é como se a presença da produção fosse um grande segredo. O codinome usado nas placas de rua é “Cerulean”, em homenagem ao memorável monólogo de Miranda, que desmascara a ingenuidade fashion de Andy.
Senti a emoção ao ver os espectadores se reunirem perto do museu na tarde de sexta-feira —horas antes de Miranda desfilar pelo tapete azul com um vestido vermelho ao lado de Nigel. Ross Bernard, um homem de 35 anos que mora no Queens, estava um pouco preocupado com spoilers, considerando o quanto já tinha visto no TikTok, mas mesmo assim decidiu aparecer, intrigado com o glamour em potencial. “Espero ver a moda”, disse ele, com uma bolsa Erewhon no braço.
Keyna Sarr, recém-chegada da Itália ao Condado de Westchester, Nova York, foi atraída para o set não apenas por sua afeição de longa data pelo filme, mas também pela forma como ele representa a cidade. “Eu sinto que este filme: é o que Nova York representa para mim”, disse a atriz de 25 anos.
Parece apropriado que o cenário de “O Diabo Veste Prada 2” seja estranhamente acolhedor, mesmo que a franquia seja focada no mundo rarefeito da elite da moda. Nos quase 20 anos desde o lançamento de “O Diabo Veste Prada”, o filme se tornou parte da vida dos fãs, graças a memes, visualizações repetidas e diálogos que entraram para o léxico. Agora, a sequência fez o mesmo —só que de forma um pouco preventiva.
Fonte ==> Folha SP