No final de julho, três dos países do G7, numa onda inédita, anunciaram que pretendem reconhecer um Estado palestino.
O último a fazer o anúncio foi o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, que disse na quarta-feira (30) que seu governo reconhecerá um Estado palestino em setembro, na 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
Antes dele, na terça-feira (29), o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, havia afirmado que seu governo reconhecerá um Estado palestino também em setembro, caso Israel não resolva o que chamou de “catastrófica situação” na Faixa de Gaza, promova um cessar-fogo com o grupo terrorista Hamas e se comprometa com a solução de dois Estados na região.
No dia 24, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que seu país reconhecerá o Estado palestino na próxima Assembleia Geral da ONU.
Desde o início da atual guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023, outros países já reconheceram unilateralmente o Estado palestino, como Espanha, Irlanda e Noruega, mas o fato de três países do G7 (o grupo das economias mais desenvolvidas do mundo) manifestarem intenção nesse sentido aumenta a pressão sobre Israel.
Entretanto, do ponto de vista político, analistas acreditam que, apesar desse reconhecimento, a criação de um Estado palestino permanecerá uma possibilidade distante.
Em artigo publicado neste sábado (2) no site da CNN, o editor de política internacional Nic Robertson destacou alguns pontos. Primeiro, as propostas dos Acordos de Oslo, assinados nos anos 1990, não são mais “realistas”, já que Israel vem acelerando a expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia.
O segundo ponto, relacionado ao primeiro, é que o atual governo de Israel, do premiê Benjamin Netanyahu, se opõe à solução de dois Estados, e os partidos de direita nacionalista da sua coalizão vão além e pregam que os territórios palestinos sejam incorporados pelos israelenses.
“Netanyahu não demonstrou intenção de recuar e usará tudo o que a França, o Reino Unido e outros lhe impuserem como um distintivo de honra”, escreveu Robertson.
No ano passado, o Knesset, o Parlamento de Israel, aprovou uma resolução se opondo ao reconhecimento internacional unilateral de um Estado palestino.
Em julho, a casa aprovou outra resolução (não vinculativa) a favor da aplicação da soberania israelense sobre a Judeia, Samaria (nomes bíblicos da Cisjordânia, usados pelos políticos de Israel) e o Vale do Jordão.
Um terceiro ponto é que o atual governo americano, principal aliado de Israel, também se opõe à solução de dois Estados e, como o professor de ciência política Vincent Martigny disse em entrevista ao site Politico no ano passado, “ninguém, exceto os Estados Unidos, tem influência sobre Israel e acesso direto a Benjamin Netanyahu” – os americanos respondem por quase 70% das importações de armas feitas pelos israelenses.
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Assim que voltou à Casa Branca, em janeiro, Donald Trump retirou sanções da gestão Biden contra colonos israelenses da Cisjordânia.
Na segunda-feira (28), ao anunciar que boicotaria uma conferência na ONU sobre a solução de dois Estados, o governo Trump reiterou o argumento de Israel de que tal discussão seria um “tapa na cara das vítimas do 7 de Outubro e uma recompensa ao terrorismo”.
Outra prova da oposição total da gestão do republicano à ideia é que, no dia seguinte ao anúncio de Mark Carney, os Estados Unidos elevaram de 25% para 35% as tarifas sobre importações do Canadá.
Sem apoio americano, um Estado palestino não tem como se tornar membro da ONU, já que pedidos nesse sentido precisam passar pelo Conselho de Segurança, onde os Estados Unidos têm poder de veto.
Em artigo para o Atlantic Council, Daniel Shapiro, membro do think tank americano e ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel, disse que a onda de reconhecimentos do Estado palestino é “resultado direto da incapacidade de Israel de articular qualquer plano plausível para o dia seguinte [após a guerra] em Gaza”.
Porém, essa pressão não levará à concretização da ideia de dois Estados, escreveu Shapiro. “Os reconhecimentos europeus não terão impacto no estabelecimento efetivo de um Estado palestino. Isso só poderá ocorrer por meio de negociações entre Israel e a Autoridade Palestina”, afirmou.
Fonte ==> Gazeta do Povo