10 livros para ler com as crianças nas férias de julho – 05/07/2025 – Era Outra Vez

A imagem mostra uma pintura rupestre representando uma figura infantil correndo. A figura é de cor marrom escura e possui ramos com flores saindo de suas costas. À esquerda, há várias formas de peixes desenhadas em um tom mais claro, contrastando com o fundo que é de um tom neutro e texturizado.

Depois de algumas semanas fora do ar, o Era Outra Vez finalmente volta das férias —mas as férias continuam sendo o assunto por aqui, porque não existe nada melhor do que ler um bom livro nos dias de descanso.

Com as crianças longe da escola, o mês de julho pode ser uma ótima oportunidade para pais e filhos mergulharem juntos em leituras que não são obrigação. Leitura por prazer mesmo, não para estudar para nenhuma prova de português.

Abaixo, há dez opções de lançamentos para conhecer nesses dias de frio, em tardes de bobeira em casa, embaixo do cobertor com uma xícara de chocolate quente. A seleção conta com livro-imagem, livro-jogo e até livro para colorir feito por um dos principais poetas contemporâneos brasileiros.

Confira a lista a seguir.

Nadar Voar

Ler este livro de João Luiz Guimarães e Anna Cunha é como mergulhar num sonho. Ou seria voar num sonho? Em “Nadar Voar”, o escritor e a ilustradora convidam o leitor para se perder numa obra cheia de poesia, onde tudo é móvel, fluido e instável. Com lirismo delicado, o texto acompanha um personagem numa jornada em que voos e mergulhos são a mesma coisa, altos e baixos se confundem e identidades não são fixas, mas borbulham a partir do movimento. “Alegre por ter asas/ para com elas nadar. /Alegre por ter barbatanas/ para com elas voar”, escreve Guimarães, que cria versos curtos que brincam com as ideias de voo, mergulho e travessia, colocando-as num constante paradoxo. Enquanto isso, Cunha desfila ilustrações banhadas (ou seriam sopradas?) de silêncios visuais, nas quais nadadeiras e asas, nuvens, peixes e ondas se misturam e se embolam.


Pedro e Paulo

Projeto selecionado na primeira edição do Prêmio Filex, “Pedro e Paulo” é desses livros que precisam ser lidos algumas vezes. Estreia de Fábio Severino na literatura infantojuvenil, a obra conta a história de Pedro, que vive sozinho num lugar desconhecido, onde cultiva um jardim. Para aliviar um pouco a sua solidão, o narrador decide adicionar mais um personagem à trama: Paulo, que ama ouvir música, dançar e pintar quadros com as flores cultivadas por Pedro. Aí já dá para perceber um pouco da complexidade do jogo narrativo: o narrador quebra a ilusão do livro, fala diretamente com o leitor e não nos deixa esquecer que estamos diante da ficção e da literatura. Mas não é só por isso que é bom ler “Pedro e Paulo” mais de uma vez. Artista plástico, Severino espalha pelas páginas uma série de referências visuais, que vão de Matisse e Hockney a David Bowie, num verdadeiro passeio de formação do olhar.


Tic-Tac

Após “O Homem, o Rio e a Caixa”, a ilustradora argentina Anabella López radicaliza ainda mais o livro ilustrado em “Tic-Tac”. Minimalista, quase um poema visual, a obra parte do clássico “Alice no País das Maravilhas” para investigar artisticamente o tempo e as transformações causadas por ele. Desta vez, a autora usa um gato e uma flor para criar uma narrativa formada por imagens e pouquíssimas palavras, sempre pontuais e exatas, como num poema. Enquanto o livro de Lewis Carroll distorce o tempo a partir do absurdo, com relógios enlouquecidos e personagens que vivem presos em chás intermináveis, “Tic Tac” mostra a partir do silêncio, da contemplação e do movimento como o passar das horas pode ser relativo. Depois que o gato encontra a flor, o felino vê a planta se transformar rapidamente, muito mais rápido do que ele mesmo, ainda mais veloz que os ponteiros do relógio.


Kintsugi

Antes de falar sobre o livro, é preciso decifrar o título. Kintsugi é o nome de uma técnica japonesa que repara objetos quebrados com uma mistura de resina e ouro. Com ela, as peças são reconstruídas, mas as rachaduras ficam aparentes, fazendo com que imperfeições e cicatrizes ganhem novos significados. É com essa ideia que a ilustradora peruana Issa Watanabe constrói seu novo livro. Após o premiado “Migrantes”, ela agora conta a história de um coelho que toma chá na companhia de um pássaro. Mas, de repente, tudo muda. Uma cor branca misteriosa toma conta da cena, pinta o corpo da ave, rompe objetos e faz o pássaro ir embora. O coelho corre atrás do colega, se embrenha na mata e mergulha até as profundezas, onde acaba encontrando a mesma cor branca. Sem facilitar a leitura nem criar um final acolchoado, Watanabe toca em questões complexas nessa fábula feita apenas com imagens.


Bicho de Palha

Este livro digital interativo é uma opção para quem acha que literatura e games não podem se misturar. Nele, o leitor escolhe os caminhos da narrativa, que pode ter finais diferentes dependendo das decisões tomadas. A trama parte da história popular “Bicho de Palha”, uma espécie de “Cinderela” da cultura popular brasileira, na qual uma jovem serviçal vive coberta por um manto de palha e, assim como a Gata Borralheira, usa um toque de mágica para despertar o amor de um príncipe. No livro-jogo, a escritora Januária Cristina Alves e a ilustradora Samara Romão atualizam o conto e adicionam a ele uma personagem contemporânea, a booktuber Agnes. É claro que o formato interativo não é inédito —está de certa forma em “O Jogo da Amarelinha”, de Julio Cortázar, ou no extinto programa policial “Você Decide”, por exemplo. Mas “Bicho de Palha” traz algo importante para o debate atual —ele mostra que o problema talvez não sejam as telas, mas o uso compulsivo e equivocado que fazemos delas.


Querido Burle Marx

Caro Burle Marx, esta breve resenha vem contar que a escritora e ilustradora Renata Bueno acaba de publicar um livro que não só homenageia o seu trabalho, mas apresenta um pouco de sua história para as crianças. Estou me dirigindo diretamente a você, porque assim é a obra, escrita no formato de uma carta da menina Flora para a sua pessoa. A personagem ama plantas, conhece bastante a sua jornada como arquiteto e paisagista e tem várias perguntas que vão fazer leitores se encherem de curiosidade em relação ao seu legado. É claro que as ilustrações trazem os verdes das matas e diferentes tipos de folhas e caules, mas o pulo da samambaia não está aí. É que as páginas estão intercaladas por papéis transparentes, que ajudam a completar as imagens, como se elas fossem vivas e fizessem parte de uma floresta. A escolha não é aleatória, é claro, já que essas folhas são chamadas também de papel vegetal. Pura botânica.


Tudo É Música

Mais novo representante da onda sul-coreana que inunda as livrarias do Brasil (e do mundo), “Tudo É Música” é feito para ser lido também com os ouvidos. Com texto sonoro e ilustrações com design arrojado, a obra acompanha uma menina de bicicleta durante seu trajeto pela cidade. Mas, em vez iluminar o caos e a desordem típicas da metrópole, a autora Mi-Ran nos faz enxergar outra coisa e mostra como a vida urbana pode ser uma grande sinfonia. “Vruuuum, ouve-se o som dos veículos a caminho do trabalho”, diz o texto. Mas é nas ilustrações que a cidade realmente se torna melodia. A autora brinca com as escalas e insere nas paisagens diferentes instrumentos e notas musicais. De repente, a cerca de uma casa vira as teclas de um xilofone, o céu se torna o corpo de um contrabaixo e o vão entre dois prédios ganha o contorno de uma flauta —numa reeducação dos ouvidos, mas também do olhar.


Nem Sabe Escrever Brazsilia

Se os livros para colorir voltaram à moda e encabeçam as listas de mais vendidos, Nicolas Behr mostra que esse tipo de título não precisa ser uma coleção de bobagens. Um dos principais nomes da poesia contemporânea brasileira, Behr é conhecido por transformar Brasília em verso —e faz isso novamente em “Nem Sabe Escrever Brazsilia”, escrito como uma coleção de verbetes, como se fosse um dicionário ou uma enciclopédia. A obra disseca a capital em pequenas pílulas poéticas que vão muito além da política, apresentando pontos como a Biblioteca Nacional, as superquadras, as cidades satélites e até a banda Legião Urbana. Mas o mais interessante mesmo é a Brasília lado B, com verbetes sobre Ana Lídia (criança assassinada nos anos 1970), o Buraco do Tatu (ligação que fica embaixo da rodoviária) ou o Taguá, o relógio de Taguatinga, por exemplo. Enquanto isso, Cacá Soares ilustra os verbetes com desenhos em preto e branco para que o leitor possa colorir e pintar o sete.


O Mandiocão

Primeiro Tolstói contou a história do nabo gigante, tão grande e pesado que não podia ser colhido, o que faz com que uma multidão tentasse desprender o vegetal da terra. Depois, Tatiana Belinky recontou essa mesma narrativa em “O Grande Rabanete”, com um ratinho para lá de simpático. Outros escritores e ilustradores também revisitaram esse conto clássico, e agora é a vez de Tino Freitas e Bruna Lubambo fazerem o mesmo em “O Mandiocão”. Nesse reconto bem brasileiro, toda uma família participa de uma colheita de mandioca. Só que fica faltando um único pé, que não sai de jeito nenhum de dentro da terra. Seu Bastião tenta puxar, mas não consegue colher. Então ele é ajudado por Loló, que recebe depois o auxílio de Caroço e assim por diante, até juntar toda a família, num conto cumulativo e ilustrado não só pelas cores terrosas do coração do Brasil, mas por uma série de comidas de dar água na boca.


O Tempo Lá Fora

Poucas épocas do ano escancaram tanto o descompasso entre o tempo dos adultos e o ritmo da infância quanto as férias escolares. É desse desajuste dos ponteiros e olhares que Clara Gavilan faz brotar seu novo livro. De um lado, a mãe está apressada e só tem olhos para os emails atrasados do trabalho, a lista de compras do supermercado e os afazeres do dia a dia, como a necessidade de passar mais tarde no sapateiro. Já a filha olha o que de fato importa: o céu, a chuva, as cigarras, a cosquinha que a torrada faz na boca, o cheiro da terra úmida. Com ilustrações aquosas como um dia de garoa, a obra mostra que esse desencontro geracional é como uma tempestade —até pode parecer intransponível num primeiro momento, mas logo o céu desanuvia, surge um pedaço de sol e adultos e crianças conseguem admirar juntos os riozinhos que vão desaguar mais tarde lá no mar.



Fonte ==> Folha SP

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