Evento debate como escalar soluções de problemas sociais – 06/06/2025 – Rede Social

A imagem mostra um apresentador em um evento chamado

Como multiplicar soluções diante da escalada da problemática socioambiental que requer respostas igualmente exponenciais. Esse foi o ponto de partida das discussões do ExChange Summit, correalizado pelo Centros para Mudanças Exponenciais, da Índia e do Brasil, em parceria com Instituto Beja, no Rio de Janeiro.

De 2 a 4 de junho, 150 participantes, entre orquestradores de sistemas, mentores, filantropos e empreendedores socioambientais de várias parte do mundo, se reuniram para se aprofundar no conceito que está sendo aplicado por iniciativas ao redor do mundo, entre elas algumas brasileiras, como MapBiomas e Desenrola.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Sanjay Purohit, CEO e curador-chefe do Centro para Mudança Exponencial, fundado há oito anos na Índia, para endereçar alguns dos maiores desafios do século 21. Para o indiano o combate à emergência climática e a busca por saúde e educação de qualidade, por exemplo, exigem respostas sistêmicas e em ritmo e escalas exponenciais.

O que significa mudança exponencial? Uma tendência exponencial é algo que se multiplica ao longo do tempo em vez de crescer linearmente. É muito complexa e tem natureza cumulativa. Nosso maior desafio é olharmos para esses problemas que estão se multiplicando em busca de uma resposta que também se multiplique. Assim, desafios exponenciais precisam de mudanças exponenciais, porque algo que está se multiplicando não pode ser resolvido apenas somando, pois assim nunca alcançaremos os resultados esperados.

O Centro para Mudança Exponencial foi criado para trabalhamos questões relacionadas à saúde, educação, geração de renda, justiça de gênero, ação climática, entendendo que se o desafio é exponencial, a forma de resolvê-lo também deve ser.

Que tipo de liderança é necessária para fazer essa mudança exponencial? Nos últimos nove anos, conversamos com quase 500 líderes em todo o mundo para entender que tipo de liderança é necessária. E identificamos nove dimensões importantes. Por exemplo, eles devem ser capazes de reimaginar possibilidades em escala e de mobilizar os recursos do sistema. Eles têm que personificar valores.

O trabalho de mudança exponencial deve ser construído para fortalecer o que chamamos de agência, a capacidade de agir, e também com dignidade e respeitando a escolha das comunidades e das pessoas. Líderes devem entender e incorporar esses valores, navegando pela complexidade e trabalhando com uma rede ampla de inovadores. Não se trata da inovação deles.

Nesse processo, três mentalidades são importantes: escalar o que funciona, sempre pensar em escala e distribuir a capacidade de resolução para que muitas pessoas possam resolver o problema. Como diversidade é algo difícil e complexo, a tendência é padronizar tudo. Será que devemos criar procedimento e sistematizar todas as coisas? A diversidade é como somos. É a natureza do ser. Esses líderes devem pensar na diversidade como solução. Ou seja, aumentando a diversidade do sistema em vez de tentar reduzi-la. É isso que os torna grandes líderes.

Quais são as principais barreiras para a mudança sistêmica? Quando falamos sobre mudança exponencial, isolamos um conjunto de barreiras. A primeira é conhecer, ter o entendimento de que a questão é exponencial, que existem outras pessoas que estão fazendo aquilo. Existem métodos para fazer isso, mas tal conhecimento não é muito difundido. Uma vez que você tem o conhecimento, a próxima grande barreira é a reimaginação, porque requer que se imagine um amanhã diferente, uma sociedade diferente. Se conseguir isso, a próxima barreira é a convicção. Por que você acredita nisso? Só assim você pode fazer com que outras pessoas acreditem. Seus amigos, financiadores, equipes e parceiros. Não é fácil fazer com que todos se unam.

Uma vez que se constrói a convicção, a questão é tentar. Então, chamamos isso de barreira de ação. Temos que mostrar que está funcionando. Quando cruzamos todas essas barreiras, temos ainda a barreira de orquestração, de coordenação, porque há diversos atores. Você tem que trabalhar com todos eles. Se for capaz de dominar a orquestração, então a barreira é a mobilização de recursos. É preciso dinheiro, talento, tecnologia. E subjacente a todas essas barreiras está uma que chamamos de autoeficácia, a crença de um líder em si mesmo.

Trabalhamos tudo isso em um laboratório de liderança, para ajudar líderes a entender que podem fazer, desde que tenha força interior. A ideia de fazer eventos e promover intercâmbio é para que estes líderes se conheçam e percebam que têm as mesmas lutas, os mesmos medos. Isso os torna mais fortes.

É como devem atuar o que vocês chamam de os orquestradores de sistema? Sim. É muito sobre liderança sistêmica, mas a questão aqui é: O que é sistema? Genericamente, a palavra mudança de sistema é entendida como mudar políticas governamentais, regulamentos. Mas o governo não é o sistema. A sociedade é o sistema. O governo é um ator no sistema. Organizações privadas são atores no sistema, assim como comunidades, ONGs e sociedade civil. Existem muitas outras peças neste quebra-cabeça.

Como a colaboração entre setores pode acelerar a transformação sistêmica? Reconhecendo que embora diferentes setores estejam trabalhando em projetos e na solução de problemas, no fundo estão trabalhando para as pessoas. Então, temos que ouvi-las, entender como são suas vidas e com o que estão lidando. Se não as ouvirmos, assumimos que sabemos a resposta. Uma boa orquestração do sistema, no entanto, requer uma escuta muito boa.

Como tecnologias emergentes como IA e blockchain podem ser usadas para impulsionar mudanças exponenciais positivas? Temos que entender que o papel da tecnologia é melhorar a coordenação, reduzir o custo de fazer as coisas, aumentar a velocidade de difusão do conhecimento, interconectar as inovações. Normalmente, pensamos que a tecnologia serve para automatizar um fluxo de trabalho. Construímos aplicativos e portais. Mas o verdadeiro poder da tecnologia, como redes abertas, plataformas de inteligência artificial, software de código aberto é conectar pessoas, conhecimento e tornar as coisas mais simples. Mas muitas vezes usamos tecnologia que torna a vida mais difícil.

O senhor poderia citar alguns casos em que a tecnologia possibilitou mudanças exponenciais? Quando começamos nossa jornada em 2007, nos inspiramos muito no Projeto Nacional de Identidade da Índia, onde a tecnologia mudou a vida de 1,4 bilhão de pessoas. Ou quando trabalhamos na educação, onde a tecnologia mudou a forma como os professores ensinam. E a Índia é um país com 30 milhões de professores em um 1,5 milhão de escolas. Começamos agora a trabalhar com profissionais de saúde de 75 países. Então, sempre nos concentramos nos desafios das pessoas, da sociedade e colocamos todo o resto a serviço disso.

RAIO X

Sanjay Purohit é CEO e curador-chefe do Centre for Exponential Change. Foi vice-presidente da Infosys. Em 2016, cofundou o Societal Thinking, uma nova abordagem para resolver desafios sociais complexos com rapidez, escala e sustentabilidade. É mentor e cofundador da apurva.ai, plataforma para amplificar a sabedoria coletiva das comunidades com IA.

A editora Eliane Trindade viajou ao Rio para participar do ExChange Summit a convite da organização do evento.



Fonte ==> Folha SP

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